SELETA DE SONETOS nº5Jul2020
Leonires Leite/PE
*Soneto bárbaro 15
virulento ao Pai*
(Sílabas *métricas*
fortes: 3a; 7a; 11a e 15a de cada verso)
Começou com fortes dores
na cabeça, corpo e peito,
Junto com falta de ar a
me fazer desfalecer...
Não estava eu preparado,
mas veio ela dar seu jeito
De me fazer decair,
chorar em prantos e morrer...
Eu tossia
e retossia como um cão abandonado
Com os olhos marejados
cravejados em confeito
Antes inimaginado, mas
agora vivenciado...
Sei não ser gajo
perfeito, mas, Pai, ouve meu grão preito:
Sou teu
filho Adamastor, eu sou a lenda, eu sou a rocha
Prestes cá a pó se
tornar, não por vírus, sim por algo
Tão idoso quanto Cronos
ou Hefesto, a luz da tocha!
Jesus,
finda este tormento, pois já fui um bom fidalgo!
Traze a sílfide dançante
que de mim tanto debocha!
Por amor tão virulento
podres glebas, em vão, galgo...
Soneto bárbaro 16
Tenho presença garantida
nos Ba-Vis - desde o primeiro! -
e vi jogarem tantos
craques por Cronos já olvidados
que - sim! - me pego a
gargalhar lembrando o futebol festeiro
do nosso clássico baiano
gerador de hinos sagrados!
O meu
Bahêa festejou o Campeonato Brasileiro
antes de todos os
demais, ante meus olhos alentados!
Já o meu
Nêgo se sagrou por cinco vezes verdadeiro
maior da Copa do
Nordeste! Leão rugindo em altos brados!
Eu vi Beijoca, Mário
Sérgio, Alex Alves e Ronaldo,
André Catimba, Joãozinho,
Petkovic e Cláudio Adão,
Osni, Ramon, Paulo
Rodrigues, Eliseu e Perivaldo,
E vi Kieza, Dida, Índio,
Gabriel Paulista e Sapatão,
Charles, Zé Carlos,
Isidoro, Capetinha e Florisvaldo...
Com tantos craques do
passado, o tal Ba-Vi é Seleção!
Soneto bárbaro 16 de diversidade
(Sílabas fortes: 4a; 8a;
12a e 16a)
Deus labutou seis longos
dias para construir o mundo...
Seis longos dias de suor
para gerar a natureza!
Seis longos dias de um
labor alentador... um dom profundo!
E descansou enfim no
sétimo o Seu sono de beleza!
O Seu suor
gerou o orvalho; o Seu amor, solo fecundo
com flora e fauna
exuberantes a matar toda a tristeza;
o sol surgiu do coração
aquecedor romantibundo
acolhedor do doce Pai
dos pais repleto de pureza.
Homem nenhum, mulher
nenhuma neste mundo é sempre igual,
mas sim revela
diferenças - digital, voz e outras mais,
mesmo se algum gêmeo
tiver em qualquer canto da cidade!
Então por que não
respeitar esse direito individual,
se sempre iremos
encontrar seres humanos "surreais"
sempre que olharmos para
os lados? Essa é a tal DIVERSIDADE!
*Soneto hendecassílabo
ao querido R2*
(Sílabas *métricas*
fortes de cada verso: 3a; 7a e 11a)
O lugar
onde exercito o corpo inteiro
contra as dores
musculares desditosas
é lugar onde vem doce e
verdadeiro
o sorriso em aulas
sempre prazerosas!
O R2 tem
um casal que é companheiro
de verdade esmigalhando
as dolorosas
mialgias mais diversas
num certeiro
laborar pelas vitórias
milagrosas!
Lá
corrijo, tonifico, flexibilizo!
Verbos que não ponho a
esmo no soneto,
mas que aplico
plenamente - aqui eu o friso!
Amaria
declamar nalgum coreto
tal soneto verdadeiro e
assaz conciso,
mas com vírus assassino
não me meto...
Soneto decassílabo
pandêmico
(Sílabas poéticas
fortes: 2a; 6a e 10a)
Ó Deus, a insuportável
pandemia,
que arrasta tantas almas
pelo mundo
à aterradora morte todo
dia
tem dom de Satanás, o
mais imundo!
Eu oro, ó
Pai, por ver minha agonia
asfixiada e morta num
profundo
averno ao assassino da
alegria!
Livrai-nos, Pai, do
vírus nauseabundo!
Sementes
da saudade no meu peito
se cravam, como em solo
enriquecido
por lágrimas do amor não
satisfeito...
Imploro, ó
Pai, imploro entristecido
que o Teu maldito filho,
em vírus feito
no Hades, seja inteiro
deglutido!
Soneto 12 rumo à bonança
(Sílabas fortes: 4a; 8a
e 12a)
Um vírus
mórbido e repleto de vileza
tomou a si protagonismo
imerecido!
Um vírus sádico a ferir
a gentileza
dum bom amplexo e do
oscular fiel curtido!
Pode ferir, mas não
matar a singeleza,
já que o carinho não é
tido por perdido,
e cada abraço e cada
beijo é - com certeza! -
somente adiado, jamais
tendo então morrido!
Após borrascas vêm o céu
e o sol por certo,
com mil gaivotas e
fragatas a bailar,
golfinhos meigos
saltitando em mar aberto!
Sendo adiado cada nobre
acarinhar,
deixamos firmes o tal
Lúcifer experto
morrer à míngua sem
enfim em nós tocar.
Oliveira Caruso - RJ
(Presidente da Academia Brasileira de Trova)
*
Soneto de solidão
Nerivan Barboza (Escada)
Quando
passarem os dias
De isolamento e frio
E quando a alegria
Que de alguns, fugiu.
Retornar
de fato, com sua magia
Preenchendo peito hoje
tão vazio
Na morada antiga e hoje sombria
Brotará um pé de amor
tardio.
Da semente
fértil, no bocado certo
Banindo enfim, qualquer
deserto
Que antes existia.
Será
primavera colorida e pura
Trará aconchego, amor e
ternura
Será o prenúncio de uma
calmaria.
*
POETA
IMUNDO
Não sou mais o que
deveria ser,
sou só a face rubra da
loucura,
andando por mais uma rua
escura,
buscando algo mais que
possa fazer.
Pois nada mais eu
poderia ter,
queria mesmo era
encontrar a cura
e digo isso com total
lisura ----
talvez meu destino seja
morrer.
Não há salvação para o
desencanto,
solução pra mim só em
outro mundo;
como eu queria afogar-me
em meu pranto,
fico aqui nestes versos
redundos
sem saber o porquê de
sofrer tanto
mesmo que sendo este
poeta imundo
SONETO AO SOFRIMENTO
O sofrimento me torna
mais vivo,
muito melhor do que não
sentir nada,
sinto-me um homem
sozinho na estrada
e até do amor eu fujo e
me esquivo.
Do sofrimento eu nunca
me privo,
portanto deixo que venha
e me invada.
Sofrer, para mim, é
coisa que agrada,
tento manter meu
sofrimento ativo.
Mas isso não me afasta
do amor ---
a origem de todo o meu
sofrer,
no fim acho que sou só
um ator
finginfo estar e
permanecer
colocando pra fora a
minha dor
seguindo um roteiro sem
nada a ver.
SONETO AOS AMANTES DA
NOITE
Ouviu-se o
som das nuvens ao luar
e tudo mais em meio à
noite escura,
tratava-se as estrelas
com mesura
mais dois amantes a se
encontrar
na noite, que era noite
de se amar ,
bem onde o sofrimento se
mistura,
então clamava-se ao céu
pela alvura,
pois esperou-se o dia
clarear ----
foi a luz que os
permitiu enxergar
seus olhos, suas bocas,
seus rostos
todo resto espalhou-se
pelo ar.
Ficou do beijo a
lembrança do gosto;
e quando mais uma noite
chegar
todo esse amor já estará
exposto.
SONETO DE UM AMANTE
Pedi para
a vida um amor que viesse
sarar essa dor que há no
meu peito
e que não fosse um amor
a despeito,
porém o meu sofrimento
só cresce.
Tenho dor, mas até ela
me esquece,
talvez eu que não saiba
amar direito,
do crime de tristeza sou
suspeito,
mas por aí o amor
acontece.
Meu amor próprio, ele já
não me basta,
preciso de alguém que me
ame mais ---
amor sem fim, amor que
não se gasta,
o qual nunca tive há
tempos atrás,
aquele amor que nem a
morte afasta
e que me permita morrer
em paz.
SONETO DA FLOR
Sou eu o verso da vida que tenho,
sou do que tenho o verso da vida,
sou mais uma tentativa atrevida
sou o que vou e eu sou o que venho.
Sou eu o verso da vida que tenho,
sou do que tenho o verso da vida,
sou mais uma tentativa atrevida
sou o que vou e eu sou o que venho.
Não me resumo a tudo que leio,
minha loucura é, sim, incontida,
não sei se essa paga é tão merecida,
talvez ainda falte cela e arreio.
Mas confesso: preciso de carinho,
sempre preciso de alguém pra me amar,
já não suporto mais ficar sozinho.
Ainda estou para achar meu lugar,
alguma flor que não tenha espinhos
para um dia eu chamar de meu lar.
Thiago Bandeira/SP
*Toda manhã, bem
cedinho,*
*quando eu morava na
roça,*
*o canto do passarinho*
*me acordava na
palhoça.*
*Depois chegou um vizinho,*
*vindo de outros
arraiais,*
*pôs na gaiola o
bichinho*
*que não cantou nunca
mais.*
*Hoje, já velho e
sozinho,*
*lembro aquele
passarinho*
*ao tocar minha viola.*
*Isolado em quarentena,*
*eu também saí de cena*
*e vivo numa gaiola.*
&
&
*Guardo com muito cuidado*
*no bolso do paletó*
*o retrato desbotado*
*que ganhei da minha avó.*
*Pais, irmãos e eu do lado,*
*unidos num clique só.*
*Mas o tempo acelerado*
*transforma vidas em pó.*
*E hoje, cheio de saudade,*
*sentindo o peso da idade,*
*o retrato é meu troféu.*
*E quanto amor ele encerra,*
*pois inda amo aqui na terra*
*os que já moram no céu!*
(AFPereira)
Antonio Francisco Pereira/MG
*Ser velho é um privilégio!*
*Não reclame da velhice*
Das rugas nem do cansaço
Dos grisalhos, da
calvície
Sem refletir passo a
passo.
*Quem se foi na
meninice*
Não consolidou o laço
Da ternura e da meiguice
Das águas doces de
março.
*Não se prenda a tolice*
Fruto de certa crendice
Que nos dividem por
traços.
Viva e não
despedisse
Nada do que Jesus disse
*E se veja em vossos
braços.*
Se for bom para os
demais
O quanto será pra mim
De cara dou o meu sim
E vou dormir na santa
paz.
Pesso
entenda, erro ou falta
Sou sertanejo sergipano
Um quase alto didata
Um cabeçudo ser humano.
E como
acadêmico literário
Trago sempre no diário
A vontade de ser
artista.
E hoje pra
minha alegria
Sou do grupo de poesia
*De uma elite
Sonetista.*
*Me desculpe, mais é
assim!*
Quando o
sol queima o inverno
E assume o geral comando
Muitos gritam: *“que
inferno*
*É Deus nos abandonando.”*
Provocam
sérias misérias
*Enterram os seus
talentos*
Colocam a paz de férias
E geram mais
sofrimentos.
E guando
chove assim certo
Nem sempre ouço alguém
perto
*Falando emocionado.*
Pela chuva
continuada
Pela safra esperada,
*Ó meu Deus: muito
obrigado!*
*Quanto tempo ainda
falta?*
Pra
sentirmos do espaço
O sopro de liberdade
Trazendo a felicidade
Pros que amargam o
fracasso.
Quanto tempo ainda vai
Essa forma de lição,
Da lei de destruição
Qual sobre o injusto
recai?
Pra
conquistar os espaços
Pra construir novos
laços
Para recebermos alta.
Para
sentir-te em meus braços
Trocarmos milhões de
abraços
*Quanto tempo ainda
falta?*
Euvaldo Lima/SE
*O pequeno Diminuto*
Belo trabalho. Textos lindos. Parabéns aos escritores.
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