SELETA DE SONETOS N10NOV2021
Marciano Medeiros
Cantando os mil dilemas da tristeza
Serei eternamente apaixonado,
No sonho de um amor atormentado,
Carrego o meu sorriso na pureza.
Confesso meu delírio e com certeza
Relembro dos beijinhos do passado,
Você fez-me marchar abandonado,
Liberto das algemas da frieza.
Batalho nessa guerra de Babel,
Aponto os resultados no plantel,
Da força que me traz aquecimento.
Declaro nos meus versos a vitória,
Desejo nessa vida transitória,
Botar fogo na casa do tormento.
Vês as flores que surgem no jardim ?
Orquídeas,azaléias margaridas
Verdadeiros bálsamos para as nossas vidas
quando enfim achamos que está próximo o fim .
Vês as vestes com que estão vestidas ?
Teem mais encanto que ouro e marfim,
Quem sabe até os de um querubim
Das etéreas regiões desconhecidas.
Sejamos pois quais flores que vicejam,
Embora muitos de nós mesmos não vejam
O encanto que existe em cada flor !
Eia ! Cultivemos em nós o altruísmo
Sob a luz divinal, sem pedantismo,
E floresceremos no jardim do AMOR !
Jorge Furtado
Fora de mim, esse papel de festa
para embrulhar presentes da emoção.
Dentro de mim, a dor se manifesta:
guarda os passados num papel de pão.
Fora de mim, as taças de champanha
fazem tim-tim na orgia da ilusão.
Dentro de mim, a mesma dor estranha
bebe saudade em copo de latão.
Fora de mim, o corpo do poeta
dança, balança, roda até rebola;
cai deslizante em água de sabão.
Dentro de mim, minha alma é mais quieta:
emenda versos e os guarda na sacola,
seca o rio que inunda o coração.
Wanda Cunha/MA
Marciano Medeiros
Ao andar nos encantos de Campina
sentirei mil abalos de emoção,
procurando o sorriso de um irmão
que partiu dessa Terra peregrina.
Hoje rogo com prece cristalina
que Jesus cure os dramas da razão,
na família do nobre cidadão
jogue a força da fé na luz divina.
Foi um homem correto e destemido,
agradeço por tê-lo conhecido,
vou guardar a lembrança da amizade.
Vi seu rosto feliz tendo alegrias,
a quem deu tanto brilho as cantorias,
ofereço um poema de saudade.
SONETILHO A SERPENTE
OPOSIÇÃO
Lutas inúteis, guerras desastradas,
razões estranhas em nome de Deus,
proferidas, impostas, orquestradas,
muitas vezes, por sádicos ateus.
Faltam no templo, as justas chicotadas,
que o profeta aplicou nos fariseus,
inventores de histórias mal contadas,
vendendo sonhos que nem eram seus.
Ainda existem no mundo estes espertos,
que vendem redenção em céus desertos,
e pedágio onde nem existe estrada...
Tento ter fé, mas, mesmo a contragosto,
quando me olho no espelho eu vejo o oposto
de um Deus que vê, mas não se opõe a nada!
Messias da Rocha/MG
PIERROT SAMBADO
Viriato Gaspar
Como se fosse errado as mãos assim,
querendo ensaboar toda a amplidão.
Como se não coubesse a festa em mim,
mas todo um cemitério só de não.
Por que parece errado o que não corta,
um riso que escancare o sol nos dentes?
Por que a água talhou já nas comportas
e a baga apodreceu inda em semente?
Às vezes tudo dói. Sangra que escorre.
Dá uma vontade de tomar um porre,
sumir sem deixar rastro. Evaporar-se.
Que bloco triste, o Unidos do Não Deu.
E o meu fofão rasgou. Sem par, sem passe,
no fim da dança, quem dançou fui eu.
Viriato Gaspar
03/11/2021